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Pode isso, produtor? Um Papo sobre forró, com o produtor Fábio Madruga

11:34

"O forró é muito desunido", Madruga

Ele trabalha com produção, há pelo menos 14 anos. Já esteve envolvido em eventos de grande, médio e pequeno porte, para forrozeiros e para o povão. Já trabalhou em diversas casas de forró e com diversos artistas, alguns deles, de muito nome na indústria fonográfica brasileira, como Dominguinhos e Falamansa.

Tem experiência na produção de outros ritmos como samba, funk e rap, além da produção cultural junto ao poder público. 

Hoje, atua como produtor artístico. É responsável pela logística das bandas, roteiro de produção, produção de palco, técnica e produção executiva.  

Polêmico e pai de primeira viagem, é uma figurinha tão conhecida no forró, quanto o seu homônomo do programa infantil mexicano dos anos 70, Chaves.  

Conheça um pouco a história e as histórias de Fábio Madruga, de 39 anos, muitos deles dedicados para ajudar na disseminação o forró.

EQM: Como o forró entrou na sua vida?
Madruga: Através de um amigo que foi ao forró e disse que seria legal ir até lá. Confesso que não gostei do meu primeiro forró, pelo fato de não saber dançar e a menina que eu chamei, me disse que eu estava muito duro, dançando igual uma vassoura. (Isso me motivou a dançar ou melhor, a aprender a dançar)

EQM: Quando e como surgiu a oportunidade de você trabalhar com forró?
Madruga: A primeira oportunidade foi no KVA, como promotor. Entregava flyer e divulgava para as pessoas. Depois de algum tempo, surgiu a “oportunidade” de ajudar uma banda, sendo o faz tudo. Daí em diante, fui aprender mais, trabalhar mais e estudar mais sobre.

Mestre Dominguinhos

EQM: Você vive de forró?
Madruga: Há 14 anos, vivo exclusivamente do forró, como trabalho e fonte de renda.

EQM: Tem noção para quantas bandas e eventos você já trabalhou?
Madruga: Já tive contato com muita banda de forró, alguns por um projeto apenas, um clipe, um CD, outras por alguns anos.

EQM: Quais foram os mais organizados e os mais zoados?
Madruga: Não vou citar nomes.

EQM : Já tomou muito calote?
Madruga: Já sim, isso é meio corriqueiro, pois no forró, muitas negociações ainda são feitas na palavra. Então, algumas pessoas não conseguem manter o combinado ou quando não sai como esperam, mudam o combinado no meio do caminho.

Antigamente eu ficava chateado, hoje em dia, eu faço de tudo para ter um contrato, ou algo que prove o combinado, não cumpriu tudo bem, resolvemos em juízo.

EQM: Qual foi trampo mais irado e com qual artista que você se sente mais honrado em ter prestado trabalho?
Madruga: O trabalhado que eu mais gostei foi recente, no Nata Forrozeira 2019, pela Multi Produtora. E o artista que eu mais me sinto honrado, sem sombra de dúvidas, a Falamansa.

EQM: Como é a vida de alguém que trabalha na produção do forró? Conte o que você faz! Precisa ter alguma graduação? Qual seu cargo, etc? 
Madruga: Trabalhar com produção no forró é uma montanha russa, um dia você está bem fazendo vários trabalhos, no outro, você não está fazendo nada. Projetos começam e acabam. Parcerias começam e terminam.

Em relação ao conhecimento teórico, é necessário em qualquer profissão, mas acredito que 90% das pessoas que trabalham com forró não tem ou não buscam esse conhecimento, o que é um erro que cometemos bastante, pois deveríamos  estudar mais e buscar mais campo de conhecimento. Atualmente sou produtor artístico.

EQM : Você trabalha com outros ritmos, o que o forro precisa aprender?

Madruga: Já tive a oportunidade de trabalhar com funk, samba, rap. 
O ritmo forró não precisa aprender nada em relação aos outros ritmos, quanto música o forró é tão bonito quanto o samba, o rap, o funk.

O que precisa mudar, no “sudeste”, é a mentalidade das pessoas que trabalham e usufruem o ritmo.

Existem vários pontos que fazem o “movimento” de forró se tornar underground (Cultura underground ou cultura submundo é um ambiente cultural que foge dos padrões comerciais, dos modismos e que está fora da mídia.)

Eu vou escrever isso já esperando, “uma polêmica”: O forró é muito desunido, bandas, DJ’s, produtores, casas de shows, cada qual pensa apenas no seu e não no ritmo como um todo.

EQM: Como assim?
Madruga: 
Por que eu cito isso? Vou colocar um exemplo prático.
A banda X lança uma música, a casa y não vai contratar a banda x, por que acha que a banda x não atrai o público que tem o perfil da casa y.

O DJ y não vai tocar a música da banda x, por que não morreu ou não tem no vinil.
A banda z não vai tocar música da banda x, por que ela quer tocar a música do Zé desconhecido, que morreu em 1970 e não foi sucesso nem na época dele.

O forró precisa que as bandas toquem as suas próprias músicas e toquem as músicas dos seus contemporâneos. É necessário criar mais, fazer mais. Mostrar ao mundo que existe uma “renovação”.

A vida inteira cantando Dominguinhos, Luiz Gonzaga, não sei onde vai somar tanto, nesse momento.

Eles já fizeram isso na vida deles, repetir discurso teria que ser uma opção e não a única opção.

Os DJs deveriam tocar a música das bandas que estão em atividade. Forró de vinil é um momento de resgate e valorização de grandes nomes que passaram pelo forró, mas não deveria ser via de mão única, principalmente para um DJ que está iniciando nessa vida da discotecagem.
Os produtores de casas de shows poderiam abrir parcerias com as bandas e formas de contratar onde ambos possam lucrar e apresentar os trabalhos. 

As bandas deveriam se ajudar: Banda X lançou uma música, todas as outras bandas deveriam inserir essa música no show e falar: Olha essa música é de banda X e martelar isso na cabeça das pessoas.

Quando não se tem o fomento de rádio e TV, quem faz a sua mídia é você mesmo, com a colaboração de pessoas e locais.

EQM: De 0 a 10, onde o forró está em termo de organização?
Madruga: 5

EQM: Você deve ter muita história engraçada de bastidores, conte um ai.
Madruga: Têm várias, mas de momento eu só lembro uma do Fubá de Taperoá, quando ele ligava em casa com a ideia de falar comigo, mas eu sabia que queria conversar com a minha mãe.

EQM: Qual dica você daria para os trios que estão em casa nessa quarentena braba?    
Madruga: Analise a sua carreira até agora, o que foi feito, o que pode ser feito no futuro.

Se não conseguir visualizar daqui 10 anos, então tenha ciência que não é para continuar nesse lance de música. Procure outra profissão e mantenha a música como um hobby, onde vai tocar com os amigos em um churrasco ou uma reunião de família, sem ter o sonho de tocar na casa y ou no evento x.

O que eu disse acima é extremamente duro, algumas pessoas podem dizer que fui escroto, mas a realidade é uma só e a pandemia escancarou isso de uma forma muito nítida e cruel.

O forro precisa de mais artista que sonham em ganhar o mundo, tocar nas grandes emissoras de TV, rádios e ter milhões de visualizações no Youtube e nas plataformas de streaming. Não de tocadores que sonham apenas em brilhar em Pinheiros e Região. 

Lembrando que eu conheço o ecossistema de trabalho, em São Paulo. Se mudar a cidade e o estado, cada qual tem a sua particularidade. 

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