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Bate papo com Rodrigo Riccó, idealizador do Skate Cidadão

13:10



Quando conheci o skate, no começo dos anos 2000, era um desafio muito grande praticar o esporte nas cidades do interior. Naquela época nossa pista eram as praças, escolas ou até mesmo a rua, principalmente quando a gente conseguia alguma madeira para construir uma rampa ou caixote. Pista mesmo, somente se viajássemos algumas dezenas de quilômetros, em uma cidade chamada Matão. 

E não que isso tenha sido ruim, pois a gente se virava bem e aprendemos a amar a rua. Mas esse fato dificultou muito para aqueles que desejavam viver de skate.   

Nessa época, na cidade de São Carlos, já tínhamos algumas pessoas que nos inspiravam e uma delas era conhecida por Rodrigo Riccó. Quando ele andava, a gente observava, e ouvia atentamente suas dicas sobre como executar algumas manobras.

O tempo passou, fui ter notícias dele depois de uns 20 anos e, contrariando as estatísticas, as notícias eram muito boas e atendiam pelo nome de Projeto Skate Cidadão. Pois é, ele transformou aquela paixão em um instrumento de transformação de pessoas menos favorecidas.

Não poderia de deixar de trazer aqui neste espaço, um pouco da história desse skatista de 41 anos e do seu “filho”, que leva esperanças às crianças da periferia. Seja bem-vindo à história de Riccó, que vive o mundo do skate desde 1986 e conhece bem os desafios de ser um skatista do interior, longe dos holofotes e das lentes dos grandes fotógrafos e veículos. 

EQM- Você começou a andar de skate em 86, chegou a se profissionalizar? Qual avaliação você faz da sua carreira e o que faltou para chegar mais longe?
Riccó- Tive a oportunidade de me profissionalizar em 2000, tive bons patrocínios, capa na revista, ganhei um campeonato brasileiro e participei do Mundial de 1999 e 2000, eventos esses que muitos pros não tiveram a oportunidade de participar. Mas a vida me direcionou para outra lugar e, assim como muitos outros amadores da época, eu não me profissionalizei, mas sempre amei o skate e andei de skate. Daí, eu saí da cena dos campeonatos. Digo que não sou um skatista profissional, mas um profissional do skate.


EQM- Você ficou um tempo afastado do skate. Como foi viver essa fase, depois de tanto tempo em cima do carrinho?
Riccó- É importante salientar a dificuldade do skatista do interior para aparecer na mídia de skate, é tudo muito difícil. Isso, unificado com a falta de apoio dos órgãos municipais, da época, dificultaram a minha trajetória. Naquela ocasião, eu tinha uma loja, que também me agitava a vida financeira, e toda está parada ficou muito difícil de ser administrada. 

Nessa ocasião, eu chamei diversos empresários do meio do skate para entender as dificuldades que passávamos. 
Ali, muitos deles nem se interessavam, por isso, não quis mais estar envolvido neste mercado. 

Nisso, quem sofreu foram os skatistas de São Carlos, que ficaram uma década abandonados pela falta de apoio dos próprios empresários. 

Eu, fui estudar num momento que poderia ser um caminho de transformação da minha vida. Com muito sangue suor e lágrimas consegui até tirar o mestrado em Portugal. Foi onde construí uma história bonita, invés de triste.  Mas, ainda estava faltando algo na minha vida, o skate.

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EQM- Quais as diferenças do skate de agora para o skate dos anos 90 e 2000?
Riccó- A diferença é brutal, foi uma evolução difícil de entender, mas com toda a experiência do Projeto Skate Cidadão deu para sacar. Evolução nas pistas de skate, nas diversas maneiras de captura e edição de imagem, as mídias sociais, as melhorias das peças de skate, os vídeos- Game, figerboard, etc... hehehe é esta geração.

Estar em campeonato nos anos 90 com Wolney, Cabral, Anjinho, Gringo, Hiena, Pulguinha, Rodrigo TX, e muitos outros, foi muito legal. Agora estar com esta nova geração, Xelem, Gabriel Aguilar, Elias Batista, é especial demais. 

É engraçado que muitos empresários do skate, ainda não entenderam a evolução do skate. Ainda não entenderam as novas necessidades em termos de peças para o skate, nem as necessidades dos skatistas. O skate físico mudou, o shape ficou muito mais largo e com bastante concave, o truck 149mm é uma tendência, muito leve todo vazado, as rodas Square Lipe muito mais utilizadas que a round lip, e rolamentos de cerâmica e todo este conjunto garantem um novo skate muito utilizado pela nova geração.

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EQM- Como surgiu a ideia do Projeto Skate Cidadão?
Riccó- O PSCSC8 nasceu naturalmente comigo andando de skate na pista da Praça CEUs (em São Carlos). Não tinha skate naquela região, mas tinha uma pista e muitas crianças. Então imagina, na minha época, seu tinha que construir tudo para eu andar de skate e meu sonho era ter uma pista...

Aí eu pensei que poderia construir algo novo ali, isso em 2017. Tudo pelo amor ao skate!

Eu sem um puto no bolso e muita gente não acreditava em mim, aliás, muita gente virou as costas e eu não tinha nem um skate. Aí o Pedrinho me disse que poderia me emprestar o seu skate e eu comecei a desenrolar o projeto... 

Cada dia que passava ia chegando mais meninos lá do bairro e o projeto surgiu naturalmente. 

Alguns skatistas da cidade me arrumaram shapes, trucks e rodinhas usadas e o projeto começou a evoluir. Em 2018, fizemos três campeonatos lá na Praça Céu. 

Depois juntaram-se a nós o Victor Lopes, o Xandy e o Gabriel Maniezo e comecei a levar a molecada para as competições fora de São Carlos. Agora o Victor é o Campeão Paulista de Street 2019.


EQM- Quantas crianças são beneficiadas?
Riccó- Atualmente são 150 crianças matriculadas no Projeto Skate Cidadão.  Dividimos as aulas de terças e quintas e atendemos o Salesianos às segundas. Quartas e sexta a Comunidade.

EQM- Quais as maiores conquistas do projeto fora das pistas?
Riccó- Eu acho que uma das maiores conquistas do projeto é ter cruzado no nosso caminho de pessoas bondosas, que acreditam no nosso trabalho e nos ajudam com alimentação, materiais, roupas e calçados. Que nos permitem fazer a diferença para as crianças e vê-las felizes. Outra grande conquista é podermos mudar a vida destas crianças e adolescentes. Levá-las para conhecer novos lugares e termos levado eles para assistir a Street League (SLS), em São Paulo.

EQM- Em quem ou em quais projetos você se inspirou?
Riccó- O Projeto Skate Cidadão surgiu de repente. Eu tenho tentado passar para os alunos todas as minhas experiências do passado no mundo do skate. Admiro vários projetos sociais de amigos, como o do Leandro de Sertãozinho e o projeto do Klebão de Franca. Mas nós nos baseamos, principalmente, no amor ao próximo e no respeito mútuo.

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EQM- O que o skate te ensinou na vida?
Riccó- O skate me ensinou a nunca desistir de evoluir, me ensinou a manter as amizades verdadeiras e a respeitar o trabalho dos outros

EQM- Qual recado você deixa para aqueles que estão tendo os primeiros contatos com o esporte?
Riccó- O skate é um esporte que demanda dedicação. Ele nos ensina que podemos superar nossas limitações, manobra após manobra. Não tenham medo de cair, porque faz parte do aprendizado. É um esporte que nos traz muita felicidade em cada acerto e nos traz muitas amizades. O Skate salva!

Rapidinhas

Um livro: Manual do Pequeno Skatista Cidadão- Vinicius Patrial

Um pensamento: "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma" , Antoine Lavoisier

Skatista exemplo: Bob Burnquist

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