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Skate: Bate papo com Douglas Prieto, editor-chefe da CemporcentoSKATE

09:00

Foto: Rodrigo K-b-ça

Editor-chefe da CemporcentoSkate, sua paixão pelo carrinho começou antes de muitos dos nossos leitores nascerem, em 1987, e seu primeiro skate foi feito com um patins e um pedaço de madeira.

Trinta e três anos depois, e muitos deles dedicados à eternizar o skate através da escrita, Douglas Prieto, que é formado em Propaganda e Marketing, com Pós em jornalismo e Direção Editorial, conta um pouco da relação skate e mídia, nos dias atuais.

Com grande paixão pelo que faz, o jornalista também fala sobre sua história dentro de uma das revistas de skate mais respeitadas e importantes da cena e, conta um pouco das dificuldades e do compromisso de levar aos seus leitores, conteúdo de relevância. 

Confira a entrevista:  

EQM: Como o skate entrou na sua vida?
Douglas: Por volta de 1987, com um amigo, serrando patins ao meio e pregando num pedaço de madeira. Ao mesmo tempo, uma visita do programa "Goulart de Andrade" na casa do Mauro Mureta, mostrando o que era skate, foi decisiva para despertar meu interesse. A casa ainda existe, e o histórico half pipe segue lá no quintal. Corria de BMX e fazia um pouco de freestyle de bike na época, e as revistas (a brasileira Bici Sport e a norte americana Freestylin') sempre traziam alguma coisa de skate. Logo, percebi que skate era bem mais legal.

EQM: Pensou, em algum momento, na profissionalização ou foi sempre for fun?
Douglas: Quando andava na mini rampa e tentava andar no vertical, na Ultra Skatepark, pensei em algo mais perto da seriedade de profissionalização. Mas início dos anos 90, os skateparks fecharam e o street explodiu. E a liberdade de andar de skate interagindo com o que a rua oferecia, me aproximou muito mais da diversão do que de imaginar algo como profissão. E me fez gostar de skate de vez, e de uma maneira muito mais pura.
Entrevistando Kelly Bird

EQM: Como nasceu seu casamento com a 100% e com o mundo da comunicação? Qual momento mais especial desse casamento?
Douglas: Sempre gostei de ler, escrever e de andar de skate. Contava os dias para comprar uma edição nova da Overall, da Yeah, e depois da Tribo. Mas foi só quando surgiu a CemporcentoSKATE, em 1995, que eu senti que deveria escrever sobre skate. Comecei a fazer isso, e mandar meus textos para lá, como carta, e eles eram publicados com frequência, algumas vezes até fora da sessão de cartas, numa página só. Ficava muito empolgado quando via que isso acontecia. Fico, ainda hoje, quando relembro.

Foto: Fabiano Mendes
EQM: Como foi trabalhar com o Alexandre Vianna? 
Douglas: Para mim ele era "só" um corrimãozeiro dos bons, demorei um pouco a ligá-lo à figura do editor da CemporcentoSKATE. Quando passamos a trabalhar e conviver, foi algo especial, orientação editorial profissional vinda de um cara muito respeitado como skatista. Foi uma chance única de aprendizado, e acho que aproveitei bem.

EQM: Nos anos 90 e 2000, a gente recortava as revistas e colocava na parede, no caderno. Como a revista sobreviveu à internet? E qual a diferença de conteúdo das duas mídias?
Douglas: Ela ainda luta para sobreviver. Pra mim, o caminho é que deixe de ser "revista CemporcentoSKATE" e passe a ser enxergada pelo mercado (comercialmente) como a CemporcentoSKATE, que faz revista, que faz Desafio de  Rua, Troféu CemporcentoSKATE, canal de YouTube, redes sociais e que empregou/revelou boa parte dos que hoje trabalham pelo skate, seja fotografando, atuando em marcas, lojas e outras mídias. E o mais importante: que tem sua história ligada aos maiores skatistas brasileiros, e que tudo isso só foi criado contando e acreditando nas histórias deles.

EQM: A 100% é uma das poucas revistas de skate impressa, no Brasil. Qual maior desafio quando vocês começam a produção de uma nova edição? E qual a logística desde a 1ª reunião de pauta até a distribuição?
Douglas: A revista impressa é algo que fazemos com certa naturalidade. Já são 218 edições, por questões de espaço físico muita coisa acaba passando de uma edição para outra, e ao longo desse tempo todo os editores anteriores (Alexandre Vianna e Marcelo Viegas) foram muito claramente definindo e lapidando o direcionamento editorial que a revista possui. Então, o desafio e sempre inovar em conteúdo, mas mantendo e fortalecendo os pilares que fizeram a CemporcentoSKATE ser vista com respeito no Brasil e no mundo. 

Digitalmente, a luta é diária em atrair o maior público possível para um conteúdo relevante, sem cair na armadilha de dar visibilidade para coisas de pouca qualidade em troca de uma maior, porém desqualificada, audiência. A gente respeita quem nos segue, e faz questão de que exista curadoria e cuidado naquilo que mostramos e, mais ainda, no que colocamos a marca CemporcentoSKATE.

EQM: Quantas pessoas trabalham para produção de conteúdo digital e impresso?
Douglas: Basicamente eu, o diretor de arte Guilherme Theodoro, o Armen Pamboukdjian, que cuida de tudo que envolve a parte digital e que colabora com a impressa e o Allan Carvalho (fotógrafo). E a rede de colaboradores externos, felizmente, é grande e competente. 

EQM: Você já escreveu infinitos textos, qual aquele que você se lembra até hoje?
Douglas: Gostava bastante de escrever coisas autorais, no tempo que era colunista. É mais ou menos o que faço no blog hoje em dia. E a introdução de uma entrevista do Rodrigo Teixeira, que não é um texto, mas sim uma lista de brasileiros ilustres e que tem o nome dele no meio, é algo que gosto de lembrar que fiz. 

EQM: Como jornalista, você acredita que o skate (marcas, skatista e eventos) se comunica bem fora da sua bolha? Acha que falta um trabalho de assessoria de imprensa para inserção do skate em grandes veículos de comunicação?
Douglas: A verdade é que é muito difícil para quem não anda, ou vive o skate, entendê-lo na sua essência. Quase sempre, quando a grande mídia decifra algum aspecto do skate, aquilo já se tornou outra coisa. Eu, sinceramente, não queria ter a missão de falar de skate sem fazer parte dele. É uma tarefa ingrata, por isso, não sou tão crítico com relação ao modo que ele aparece na TV, por exemplo. Como você vai explicar a descoberta de picos, saber quais manobras foram dadas, por que você deve respeitar e não pode queimar etapas? É mais fácil falar que fulano foi o campeão e pronto. A emissora se sente transmitindo a mensagem, e o espectador sabe quem venceu. Está feita a comunicação. Mas para dizer o que o skate é, de fato, e contar suas histórias, não existe outra forma que não seja vivê-las.

EQM: Qual personagem você sempre sonhou em entrevistar?
Douglas: Jason Lee

EQM: Qual sua opinião sobre skate nas olimpíadas? E como as revistas e outros veículos de comunicação especializados podem se aproveitar desse momento?
Douglas: É mais um lugar onde o skate chegou. Existia alguma expectativa de que maiores orçamentos (publicidade) chegassem ao skate "core", que envolve as mídias especializadas, as lojas e mesmo os skatistas não competidores. Não vi isso se tornar realidade, e a pandemia mudou tudo. Vamos ver o que o futuro reserva. A olimpíada é algo muito específico, pois serão pouquíssimos skatistas para uma audiência enorme. Será o grande momento do skate de competição.

Foto: Atilla Chopa

EQM: O que o skate representa na sua vida? 
Douglas: Andar de skate é um jeito fácil de aprender, na prática, a correr riscos, tentar coisas novas, cair e levantar. E aí você passa a usar esse aprendizado para todas as situações da vida.

EQM: Como foi participar do Skate Le Monde?
Douglas: Foi divertido! Achei demais o fato da "obrigatoriedade" de andar de skate, não adiantava falar que era skatista, tinha que provar! Saímos pelas ruas esburacadas da Vila Mariana. Foi muito gratificante fazer parte e ver o resultado, bem como os episódios de outros países. O Mathieu Cyr e a equipe dele passaram a ser pessoas que conhecem, como poucos, o que é o skate mundialmente falando, e as peculiaridades de cada lugar. Se você assistir, pode passar a ter um pouco desse conhecimento também. Agradeço o professor Leonardo Brandão, que fez a ponte para que eles viessem até a editora.

EQM: Qual dica você daria para quem quer trabalhar com jornalismo e skate? 
Douglas: Ande de skate. Leia, assista vídeos, converse com as pessoas, se informe o máximo possível. E seja original. Crie seu próprio conteúdo, seja escrevendo, fotografando, filmando, desenhando, pensando. Reúna pessoas com objetivos comuns. O "repost", o "control C/control V", isso não faz de ninguém jornalista e, mais grave, não acrescenta nada na cena do skate. Aquela coisa de retribuir o que o skate fez por nós é verdadeira, real. E retribuir é criar, acrescentar, enriquecer. Faça isso, com o carinho que o skate merece.


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