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Skate: Bate Papo com Priscila Morais

17:28

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Em pleno 2020, mulheres ainda ganham, em média, 20,5% menos do que os homens no país. Cerca de 48% das mulheres, ainda são mandadas embora do trabalho após licença-maternidade, isso sem contar as constrangedoras perguntas durante uma entrevista de trabalho, as situações de assédios, os medos e os rótulos que são impostos a elas. 

E no skate, isso não é muito diferente. Apesar do pequeno avanço, as meninas ainda não são vistas como deveriam. 

Mas, apesar das barreiras que a sociedade tenta colocar diariamente, as mulheres sempre ocuparam todos os espaços, com ou sem olhares de desconfiança das pessoas.

Aos homens, nos resta entender o nosso privilégio dentro dessa sociedade patriarcal e tentar não reproduzir esses preconceitos enraizados.

Hoje,  nossa conversa é com a skatista paulistana, Priscila Morais, de 34 anos, que desde 1999 adotou o skate na sua vida. Aqui, ela fala um pouco de preconceito, oportunidades e dá conselhos de como não devemos agir com elas. 

EQM- Aquela perguntinha básica, quando e como o skate entrou na sua vida? 
Priscila- Eu comecei andar de skate em 1999, na época, eu morava no extremo leste de SP ( Jd. Iguatemi) e na rua e escola havia alguns meninos andando de skate. Comecei andando ali com eles, skate emprestado e assim foi.


EQM- O que o skate representa na sua vida?
Priscila-Tudo o que eu sou hoje veio da maneira como o skate me afirmou na sociedade, onde eu criei personalidade, amigos, conhecimento, e onde transformou a minha realidade.

EQM- Sem delongas, o skate se mostra ser um movimento que prega a liberdade, mas ele é preconceituoso? 
Priscila- Eu acredito que todas as esferas da sociedade são pré/conceituosas e no skate não seria diferente. Onde as pessoas ainda que, também sofram opressões por serem skatistas, se beneficiam de seus lugares dentro de uma sociedade patriarcal/racista, para reproduzirem preconceitos.
Foto: Thomas Teixeira

EQM- Que tipo de situação você já passou?
Priscila- São muitas, acredito que todos os dias vemos alguma reprodução de preconceito. Se eu for listar todas ocasiões, poderia sair um livro (rs), infelizmente.

EQM- Qual tipo de skatista machista é o mais chato? 
Priscila- Todos, a partir do momento que a pessoa ( eu digo pessoa pelo fato de terem mulheres que reproduzem machismo), pensa na mulher de uma maneira inferiorizada/ sexualizada e usa disso como argumento, eu já vejo que temos um problema.  

EQM- E o que os skatistas homens nunca devem falar para as meninas? 
Priscila-A primeira coisas que os homens podem fazer é ter respeito, entender que se as mulheres estão ali andando, é porque escolheram isso, e assim como eles querem, nós também queremos ocupar os espaços, se o respeito acontecer, ai já é um bom caminho andado, e a partir daí dialogar com uma empatia para com elas. Será que essa minha atitude/comentário não está trazendo algum desconforto? Se pensar por 3 segundos sobre isso, muitos deixarão seus comentários descabidos de lado e quem sabe até corrigirão os colegas.

EQM- Qual importância de pessoas influentes como o Kbeça darem declarações diretas e retas, assim com ele fez sobre sexualidade?
Priscila-Eu sou amiga do Kbça há anos, e sempre soube da orientação sexual dele. Porém, eu acredito que algumas coisas precisam serem ditas para que haja uma desconstrução de opressões que ainda machucam muitas pessoas, e o Kbça tendo a visibilidade que tem, trazendo essa declaração ao público, ele certamente está ajudando para que, outras pessoas saibam que elas podem serem o que quiserem, o amor é livre, a única coisa que prende muitas mentes ainda, é o ódio, e eu espero que possamos nesses dias falar de amor!

EQM- Algum skatista realmente te deu um grande apoio? 
Priscila-Um grande apoio não sei se é uma afirmação correta de eu fazer, mas eu conheci muitos skatistas que pelo menos na minha frente me respeitaram, esses inclusive são os que eu fiz questão em manter até hoje como meus amigos. 

EQM-Ano 2020, do início da sua vida em cima do carrinho para cá, minimamente as coisas mudaram para o skate feminino, né? Para que essa pequena melhoria existisse, algumas meninas comeram o pão que o diabo amassou e você é uma dessas meninas. Você tem um sentimento de dever cumprido na luta pelo skate feminino?  
Priscila-Eu tenho uma sensação de que mesmo diante de muitas batalhas, permaneci fazendo aquilo que eu sempre gostei: andar de skate! Isso eu tenho muito orgulho de não ter desistido, algumas coisas eu queria ter feito mais dentro do skate, ter mais imagens registradas, ter organizado algum tipo de organização que usasse o skate, algo em favor das mulheres etc... em contra partida eu vejo uma nova geração muito segura de si, afirmativas, cheias de atitudes, e eu não tenho dúvidas que elas farão todas essas coisas.

Foto: Anairam de Leon

EQM- Você é consultora imobiliária? Tentou viver de skate? Quando viu que teria que buscar alternativas? Foi decepcionante? 
Priscila- Sim, eu trabalho desde 2007 no mercado imobiliário, nessa época eu estava trabalhando em uma loja de bolsas, estudando, e andava de skate a noite, e logo em seguida, comecei fazer estágio em uma Imobiliária e assim as coisas aconteceram. Foi questão de sobrevivência, nessa época eu comecei a ter outras necessidades na vida e tive que optar se eu queria continuar passando perrengue na casa dos outros ou me agilizar de outra maneira, e foi o que eu fiz e continuei andando de skate até hoje, porque eu soube ver isso e não me frustrei É uma decisão difícil em fazer, mas eu não posso reclamar e dizer sobre decepção, foi através dessas escolhas que hoje eu ainda consigo ter um suporte para bancar o meu skate. 


EQM- Fala um pouco do Afroencer. 
Priscila-O Afroencer nasceu de uma necessidade que eu vejo em sabermos sobre nós por nós mesmos. Eu vejo que a pauta antirracista só terá algum tipo de êxito, através da educação. Há um apagamento da história do Brasil que ao meu ver é um plano muito bem elaborado de colonização, e que até hoje continua privilegiando corpos brancos, e exatamente por esse motivo eu vejo que os digitais influencers pouco influenciam com as suas realidades o povo preto, e um dia pensando sobre isso, eu quis criar uma rede de influência afrodescendente, que traz essas narrativas importantes e, que muitos de nós, não conhecemos, ali, eu e alguns amigos com/partilhamos um pouco de intelectualidade, afim de sabermos e cuidarmos de nós :)  


Ping Pong

Uma skatista: Vanessa Torres
Uma música para a session: Work - Gang star
Pista ou rua? Até os 30 eu gostava de andar na rua, agora uma pista tá doendo menos rsrs
Um livro de cabeceira : Primavera para Rosas Negras - Lélia Gonzalez.
Uma frase: O skate vai te proporcionar diversas coisas, basta ter a mente aberta. 

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