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As dificuldades do forró no interior de São Paulo

17:48

Forrós nos Sesc's do interior sempre teve boa aceitação. Foto: David C. Fugazza
O interiorrrrrrrrr de São Paulo é conhecido musicalmente pelas canções sertanejas, as violas e o caraterístico sotaque, com direito a puxar bastante o “R”. O que muita gente não imagina é que o forró pé de serra também está inserido em diversas cidades dessa região do estado mais populoso do Brasil, seja através das bandas, das casas de shows,  das festas ou até mesmo através aulinhas voluntárias.

Apesar disso, a vida das bandas de forró do interior não é nada fácil, principalmente, se elas quiserem entrar no circuito e tocar nas principais casas de forró, que estão localizadas na capital e nas cidades próximas. 

E quanto mais você se distancia da capital, mais as coisas vão ficando difícil para esses músicos, que precisam buscar alternativas. 

Segundo o tringulista, Gustavo Moreno, do Caruá, de Bauru, (335km da capital) um dos fatores que aumenta a dificuldade é o alto custo de deslocamento até a cidade de São Paulo. Além do combustível, os pedágios paulistas engrossam os custos das bandas.   

“Enquanto em São Paulo uma banda vai gastar o valor rodado na cidade, no interior precisamos nos deslocar a distâncias maiores. Com isso, aumenta os custos com as despesas de viagens, o que dificulta na hora de negociar os valores de cachê mais competitivos, para a gente conseguir mais abertura na capital. Isso sem contar que tem músicos que trabalham por conta de condução + bebidas. E essa prostituição do mercado não é de hoje”, falou o músico, que também citou a falta de periodicidade dos forrós no interior como mais um fator de dificuldade. 

Com essa desvalorização do artista, Gustavo declarou que já passou pela sua cabeça desistir desse mundo de forró. 

“Eu já pensei em desistir sim. A desvalorização é muito grande e, muitas vezes, o retorno é muito pequeno perto do que tem de investimento. Às vezes bate um desanimo, é muito tempo e dinheiro que a gente investe. Aí querem pagar um cache de R$ 100, R$150, desanima mesmo. Em contrapartida, nós entendemos o lado do produtor, pois o público reclama em pagar R$ 10 reais de entrada. É uma cadeia e a culpa é de todos nós, pois não agregamos valor ao nosso produto”, falou.

O zabumbeiro dos 3 do Balanço, de São José do Rio Preto, (453 km da capital)
Rodolpho Castro, o Fuskinha, também acha muito mais difícil tocar forró no interior. Segundo o músico, para muitas bandas, o forró é um complemento de renda, ou até mesmo um hobbie.

“Aqui, cache não existe, se você quer tocar com frequência, tem que andar com as próprias pernas, organizar, ter som, etc. A cultura dos bares é contratar com o som. E a coisa mais rara que tem por aqui é cache. Geralmente, você conquista um lugar que abra as portas, fica com a portaria e seja que Deus quiser.  Para nós do 3 do Balanço, o Forró é o complemento de renda, um hobbie que a gente leva a sério. Cada um tem seu trabalho paralelo”, disse. 

O músico acredita que para atingir o público da capital, é necessário ter diferenciais, pois tem muitos trios fazendo bons trabalhos na capital. 

“Quando você toca na capital, você aparece, o público é maior e as pessoas conhecem outras pessoas, que acabam divulgando o trabalho. Estamos a quase 500 km de distância, para aparecer na capital tem que estar bom e tem que ser diferente. Pois tem um monte de gente boa na capital”, completou Fuskinha, que acredita ter criado uma grande casca por conta dessa dificuldade.

“Quem está no interior precisa ralar 3 x mais. Mas também cria uma casca e uma vivência artística muito grande”, finalizou.
Presente em diversas cidades do Estado, o Sesc tem dado boas oportunidades para as bandas. Ainda segundo Gustavo Moreno, os Sesc’s têm uma importância muito grande para os músicos do interior.

“O Sesc é o maior grupo de fomento à cultura que o Brasil tem hoje. Se não fossem eles, a desistência seria maior”, disse. 

Músico, produtor e empreendedor da área da cultura, Diego Leandro de Araújo, que tocou na Banda Zaíra e é de Piracicaba, (170km da capital) traz uma outra perspectiva da vida de um músico de forró no interior. 

“Sobreviver não combina muito comigo, sempre pensei em desenvolver um ambiente que consiga suprir minha necessidade financeira, e durante alguns anos, minha rende sempre foi gerada exclusivamente do Forró, hoje não mais, pois trabalho com outros estilos. Tivemos sempre a sorte de ser bem valorizados na maioria do nosso caminho, quando era desvalorizado, já não fazia mais parte do nosso caminho. Valorização e desvalorização sempre vão existir, e alguns momentos pode refletir mais forte, mas somos mais fortes! As oportunidades no interior são grandes, a sagacidade está em como usá-las”, comentou. 


Unanimidade

Entre todos, a unanimidade é que o Trio Dona Zefa, que é de Campinas, (105 km da capital) é um ponto fora da curva, uma verdadeira referência profissional para todos que buscam viver do forró. O trio comandado por Danilo Ramalho, Murilo Ramalho e Mila do Acordeom é um dos que mais toca no circuito Pé de Serra do Brasil e serve de espelho para quem está buscando seu lugar ao Sol.

“Acho o Trio Dona Zefa super referência em qualidade artística, esse pra mim é o segredo” completou Diego.

Produção de Forró

A 327 km da Capital, na cidade de Ribeirão Preto, Alessandro Mercedes, o Lê, começou a promover bailes de forró em 2006. Foram mais de 10 anos levantando a bandeira do forró pé de serra e levando para a cidade festas, shows e até grandes festivais.
Apesar de todo esforço, dos investimentos de tempo e dinheiro, Lê disse que a maior dificuldade sempre foi conseguir público para os eventos.

“A gente sempre fez acontecer com poucos recursos. A maior dificuldade sempre foi o público. Tinha uma galera forrozeira, mas, muitos não iam se houvesse um outro evento, de outro estilo, na mesma data. Isso sem contar os que reclamavam de pagar R$15 para ver uma banda boa de São Paulo. As bandas sempre ajudavam e conseguíamos negociar de uma forma que as duas partes ganhavam”, falou o produtor que nunca conseguiu apoio da prefeitura local. 

Os forrozeiros também acabam sofrendo com essas dificuldades encontradas por alguns trios e produtores. Sem local, eles precisam se deslocar para outras cidades para poder curtir o que mais gostam de fazer, dançar um bom forró pé de serra. 

Vale lembrar que o interior, apesar de toda dificuldade, continua mostrando que tem muito talento e bons exemplos a serem seguidos, seja de trabalho ou de organização. Além do Trio Dona Zefa, os Dois Dobrados tem representado bem o interior, assim como Enok Virgulino e o próprio Zaíra, que participou de programa musical na Rede Globo. 

Em Campinas, que antigamente tinha a Cooperativa Brasil, agora tem o Brazuca, comandado por Estéfano Besplec Junior, que também está a frente do Nata Forrozeira, que agora acontece em Araraquara.

Por falar de Araraquara,  a cidade  (289 km da capital) abrigou por muitos anos o Particulino do Alê, festa organizada por Alexandre Mori, que levava público do país todo para dançar forró, no interior. 

Mori também era o responsável por levar diversas bandas de forró aos Sesc's da região de Araraquara, movimento ainda mais a cena.

O Forró no Escuro, que foi criado por Diego Leandro de Araújo e hoje é produzido  pela empresa " A Música Vive", foi além de Piracicaba e invadiu, além da capital paulista, as cidades de Campinas, Limeira, Americana, Bragança Paulista, Atibaia e Nova Odessa. 
 
Isso sem esquecer do Forró dos Sonhos, que durante um final de semana, leva os melhores trios para a cidade de Jundiaí .

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