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Skate; Bate papo com o fotógrafo Flávio Samelo

13:47

Foto: Guilherme Santana/VICE

Agosto de 2014, foi neste dia, durante uma palestra em um evento  da ECA/USP, que eu conheci o trabalho desse fotógrafo que, desde 1992, dedica sua vida congelando não somente manobras e skatistas, mas também eternizando coisas invisíveis, como a atitude, presente nas ruas e, principalmente, presente no skate.

Me lembro que eu trabalhava muito longe da USP, precisei sair mais cedo e, literalmente, atravessar a cidade e fazer mil baldeações para acompanhar aquela palestra, afinal, não é todo dia que skate e fotografia estão em debate juntos.

A partir daquele dia, passei a acompanhar o trabalho e a propostas de trabalho dele que, com certeza, inspira muita gente por ai. 

Bom, o bate papo de hoje é com o papai de primeira viagem, Flavio Samelo, que entre uma frauda, um fotografia de skate, arquitetura ou uma produção de uma arte urbana, apresenta o programa Pela Rua, exibido no Cana Off. 

Aqui, ele fala de carreira, que começou ao lado de um time que dispensa comentários, como Bob Burnquist, Fabio Cristiano, entre outros, skate e vida. 

EQM: A velha pergunta de praxe. Como e quando o skate surgiu na sua vida?
Samelo: Eu andava de skate na ZN skatepark com um pessoal que andava muito né, tipo o Bob, Pinguim, Reco, Bambam, Ribeiro, Fabio Cristiano e tantos outros, só que eu obviamente não andava nem de perto igual eles e eu me senti mal ahahahaha era engraçado. Ai o Marcus Vinicius, conhecido hoje como Kamau, que estudava na minha sala da escola, deu a ideia de eu fotografar a galera na sessão, já que isso era bem raro no começo dos anos 90, e foi ai que tudo começou.

EQM: A fotografia começou com o skate, correto? Além da fotografia, de que formas o skate influenciou e influencia na sua vida. Quando você viu que daria para viver de fotografia e você teve aquela fase dos pais estarem preocupados com o futuro do filho, que quer ser fotógrafo de skate?
Samelo: Sim, tudo que eu fiz e faço até hoje foi através do skate. Fora a atitude em relação a tudo na vida né? De olhar um problema como desafio a ser ultrapassado e não como um fim, sabe? Com o tempo, você vai ficando mais confiante e tudo vai ficando mais fácil de ser feito por causa da experiência e meus pais não achavam tão legal o que eu fazia, mas nunca me proibiram de nada pois confiavam em mim.

EQM: Se a gente traçar uma linha na sua carreira, podemos ver que você muito inquieto, que nunca se conforma com o zona de conforto, que está sempre buscando algo novo. Depois da fotografia de skate, como surgiu o interesse pela “arte”, pela arquitetura, etc? E onde esses interesses se convergem, na rua? Na paisagem urbana? No Skate, de alguma forma?
Samelo: Como te falei anteriormente, tudo veio por causa do skate, porém cada nova forma de expressão tem sua própria vida, sua realidade e, eu vou me dedicando a cada uma da maneira que eu acho interessante na hora, não tento seguir regra nenhuma, em nada, vou no que eu estiver sentindo. Pra mim, não tem divisão entre skate, arte, arquitetura, rua, etc...tudo tem minhas ideias em comum então eu só vou absorvendo coisas que acho interessante e somando ao meu repertório de referências pra quando eu foi fazer alguma coisa, isso estar ali de alguma forma.

EQM: Você é daqueles malucos que andam pelas ruas compondo cenas, poses, analisando luz, linhas e enquadramentos?
Samelo: Totalmente

EQM: De onde vem sua inspiração e o que te move na profissão?
Samelo: Na vida, na liberdade, no ir e vir, nos erros e falhas principalmente

EQM: Olhando seu site, percebi que você fez algumas exposições do seu trabalho. Qual a importância de fazer esses tipo de divulgação do seu trabalho?
Samelo: Eu faço exposições desde 1999 e sempre foi um grande exercício de desapego pra mim, mostrar sem filtro uma ideia, um projeto, uma visão. Achem legal ou não, bonito ou não, o que importa pra mim é eu estar contente com o que estou colocando público, tem que ter coesão com minha vida e como eu vejo o mundo e, por isso, não gosto muito de repetir trabalhos, pois a cada segundo a vida muda, e eu gosto disso, da novidade.

EQM: O “Pelo Rua” é o sonho de consumo de qualquer skatista, viajar, andar de skate, mostrar os amigos, bater papo. É isso mesmo, um verdadeiro sonho? Pois é nítido que vocês gostam muito do que fazem, mesmo depois de muito tempo.
Samelo: Minha alegria em fazer o Pela Rua é ver que as pessoas estão entendendo a real do skate, e não vendo só como uma parada para competir e ganhar alguma coisa. Nada contra quem veja o skate dessa forma, que eu acho de certa forma importante até, mas não é a minha realidade. Pra mim, o skate não é um esporte, é um estilo de vida, uma forma de expressão artística, mas como ele é praticado como esporte, a coisa fica complicada. Toda essa complicação também é interessante.

Ali nos episódios que são exibidos não tem 1/10 do trampo que é fazer o programa. Ali tem só nós 3 com os amigos e tal, como você mesmo disse, agora marcar as sessões, comprar as passagens, reservar hotéis, negociar com off e tantas outras coisas que eu, Zodi e Tuca fazemos juntos, só tem nós 3 fazendo tudo, o que é muito bom também mesmo dando MUITO trabalho.
 Anderson Tuca, Flavio Samelo e Carlinhos Zodi
EQM: De onde vem esse estilo de fazer as fotos e colocar na composição as pessoas que normalmente estão por trás das câmeras e não aparecem nas fotos?   
Samelo: Sempre me disseram que isso não podia no skate, aparecer os tripés, os flashs, os câmeras e tal. Sempre achei isso uma babaquice sem fim e eu sempre achei esses elementos a parte mais interessante das fotos. Várias fotos minhas já foram editadas, cortadas e tal, mas nunca liguei porque sei o que eu quero da minha foto antes de fazer qualquer uma delas.

EQM: Qual sua participação no Moment Game?
Samelo: Quando a VISTA e a SANTA se juntaram nesse projeto, em 2008, eu entrei sem pensar porque as pessoas envolvidas eram, e são até hoje, grandes amigos meus. Mesmo eu não sabendo nada de game minha confiança na visão deles é total e vejo nesse game uma inovação incrível e eu adoro participar de coisas que as pessoas sejam MUITO fora da curva, o que é o MOMENT pra mim desde o começo. Eu acabo participando dando opiniões, sugestões e com o pessoal do mkt/divulgação, agora nessa segunda etapa do projeto, 10 anos depois de termos lançado

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EQM: Conta a história daquela foto de Brasília, que você classifica como a que você mais gosta.
Samelo: Eu e o Tuca estávamos num campeonato lá e tínhamos um tempo livre e sempre curtimos sair pegando impulso na rua onde estamos viajando, desde sempre e aquilo foi em 1998, ou seja MUITO antes do Pela Rua existir a gente já fazia o que fazemos no programa, por exemplo.

Nessa saída passamos em frente ao Congresso Nacional, e vi aquele monte de merda de cavalo, em frente ao lugar onde as grandes decisões políticas do país são, ou deveriam, ser tomadas, porém aquilo é uma merda sem fim, políticos tirando proveito ao máximo que podem onde deveriam trabalhar em função da comunidade que os colocou lá e não ao seu próprio favor, ou seja: uns merdas.

EQM: O que você diria para aqueles que querem trabalhar com o skate, mas assim como nós, não nascemos com tanto talento para ser skatista profissional?
Samelo: Acredito que a pergunta certa é O QUE TE FAZ FELIZ? NO QUE VC SE DEDICARIA 27HS POR DIA, QUERENDO QUE O DIA TIVESSE 40HS E VC NÃO PRECISASSE DORMIR, entende? Tem gente que está no skate pra ser diferentão, para ser legalzão e tal, pra ser campeão, patrocinado etc, mas não é skatista saca? Se você é skatista, vai acabar trabalhando vivendo de skate, você vai dar um jeito para isso acontecer. Senão, é só mais uma modinha passageira como tantas outras.


EQM: Você não bebe e parece ter uma ótima conexão com a natureza, seja pelas plantas ou pelos sucos. Você tem uma filosofia de vida? Qual é?
Samelo: Eu respeito muito meu corpo e o que o planeta e o universo me oferecem a cada dia. Não julgo quem tá nem ai pra nada porque é dessa forma que nos ensinam, mas minha dedicação é pela calma e cuidado com os outros e pelas coisas que o universo deixa a gente usar momentaneamente.

EQM: Você agora tem uma filha, você se pega pensando muito mais no futuro do mundo e na melhoria desse mundo?
Samelo: Eu não sou ninguém para melhorar o mundo, mas eu sou o Deus da minha vida e das minhas regras e faço o que acredito ser o certo pra mim e para as pessoas que pensam na comunidade e nos outros. Dessa forma, pode ser que mais pra frente alguém se beneficie disso, mas minha preocupação é com a minha consciência em relação ao que eu estou fazendo.


Lucas Xaparral



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