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Skate: Bate papo com o Sidney Arakaki, do Blog Skataholic

21:25


Ele sempre teve dificuldade com o português, escrever nunca passou pela sua cabeça, mas, no entanto, hoje, com apoio dos amigos e com muito estudo, ele é um dos principais comunicadores dentro do mundo do skate, que entrou na sua vida ainda em 1988.

Ele já foi vencedor do Troféu 100%Skate 2009, como o Blogueiro do ano. Já trabalhou na revista Tribo e  foi blogueiro da ESPN, quando a emissora era dirigida pelo jornalista esportivo José Trajano. 

Sidney foi skatista profissional no Japão, país onde viveu por alguns anos. Lá, ele também conheceu os campeonatos de skate e ganhou diversos deles.

Hoje, aos 45 anos, Sidney Arakaki, que acabou de agregar a venda de peças de skate ao seu conhecido Blog, o Skataholic, fala sobre skate, vida, futuro e jornalismo. 
  
EQM - Aquela perguntinha básica, como o skate entrou na sua vida?
Sidney Arakaki - A primeira vez que vi o skate na minha vida foi no começo dos anos 80, num episódio do CHiPs, meus super heróis da infância com a família Ultra. Lembro exatamente do meu encantamento ao assistir aquilo.
Mas 
só em 86 vi o skate pessoalmente, quando passei pela pista de skate de São Bernardo (SP). Só tinha a pista velha cercada de lama e eu achava que nunca teria coragem de andar de skate, apesar de estar fascinado.

Depois de alguns anos, ganhei um bananinha Nakano, que não considerei skate, achava sem graça e queria um de verdade. Tive que chorar bastante para ganhar o skate tubarão em janeiro de 88. É clichê dizer isso, mas eu sabia que era aquilo que eu ia fazer pelo resto da vida.

EQM- Por que a profissionalização junto à federação japonesa e não brasileira?
Sidney Arakaki -Eu nunca fui campeonateiro e o sonho de me profissionalizar já tinha passado, eu sabia que não era bom o bastante.

Mas em 96, eu estava morando no Japão e corri um campeonato. Ganhei e a sensação foi muito boa, porque me orgulhei muito de ser brasileiro e ter ficado em primeiro lugar num campeonato no Japão, pois naquela época brasileiros eram muito discriminados lá. Tinha cidade que proibia brasileiros de frequentar comércios locais e até em sessões de skate fui enxotado por ser estrangeiro.

Então, quando eu ganhei esse campeonato foi na época que o Digo e o Bob ganharam os campeonatos e eles começaram a ser conhecidos lá. Minha autoestima melhorou, porque antes não tinham referências de brasileiros no skate para a gente ser respeitado lá fora.

Com essa motivação eu foquei em querer ir para as finais de todos campeonatos, para ganhar a premiação. Tive o patrocínio de uma loja que me dava todo suporte de peças, então essa premiação eu conseguia fazer um dinheirinho a mais, porque eu estava em todas as finais e ganhava ou ficava em segundo na maioria.

Em 1997 foi o ano que eu participei do circuito japonês em algumas cidades e ganhei uma etapa importante, que fez eu começar a ser muito respeitado. Para se profissionalizar no Japão, precisa ganhar uma dessas etapas ou ficar entre os dez do ranking. 

Na real, eu nem ia me profissionalizar, não tinha tanto essa ambição. No Japão, os skatistas profissionais não recebem salário e a premiação, além de baixa, seria mais difícil do que os campeonatos amadores.

Senti que o dono da loja que me patrocinava e alguns amigos estavam muito empolgados, eles já me consideravam profissional. Aí eu me lembrei que 1998 seria o ano que marcaria meus primeiros dez anos de skate e, talvez, eu não tivesse mais a chance de me profissionalizar. Então confirmei que em 1998 seria profissional. 

No Brasil, eu sou reconhecido pela CBSk. Só corri dois campeonatos em 1999, mas considero mais participações do que competições. Naquela época, era divertido porque as pistas eram construídas especialmente para os eventos e não tinham tantos inscritos ainda. 

Foto: Arquivo CemporcentoSkate
EQM- Quais as grandes diferenças do skate dos anos 90 para o skate de agora?
Sidney Arakaki -Isso é subjetivo, nem tem como tentar explicar.

EQM- Quando e como você começou a trabalhar com jornalismo e como descobriu essa vocação? Aliás, como foi essa transição de skatista profissional para comunicador?
Sidney Arakaki - No começo de 2000 eu tive que fazer uma cirurgia no joelho e a marca de tênis que me patrocinava, desde o Japão, parou de ser distribuída no Brasil. Eu não teria mais ajuda de tênis e sabia que precisava arrumar um trabalho. Com o dinheiro que eu trouxe do Japão eu tinha comprado um computador, mas mal sabia ligar ele.

Alguns meses antes, eu conheci o Luis Naka, da revista Observer e ele me pilhou para escrever um artigo sobre esportes de ação no Japão. De alguma forma ele gostou e me incentivou para escrever mais. Lembro que eu nem sabia usar o editor de texto, tinha que salvar o arquivo num disquete e levar para ele, porque internet era luxo.

Escrever nunca me passou pela cabeça, porque só estudei até a oitava série e sempre fui péssimo em português.

Nessa época que fiz a cirurgia, a revista 100% se transformaria de bimestral para mensal e precisava aumentar seu staff. O Stanley Mitev, que era sócio e diretor de arte, eu conhecia e falei que precisava trabalhar e podia ser redator. O Alexandre Vianna gostou da ideia e me contratou.

Só que ficou uma situação chata com o Naka, porque ele era tretado com o Alê, e como as colaborações para a Observer não rolavam dinheiro, parei de participar.

Mas o Alê, Stanley e o Reinaldo Caruso tiveram muita paciência comigo para ensinar gramática. Eu escrevia blocos de texto sem saber usar vírgula e ponto final. Desde então, eu aprimoro constantemente a gramática, o processo é muito desgastante para mim porque aprendo com erros. Por isso, incentivo tanto a molecada a estudar.

Foto: Dalton Arai

EQM -Atualmente, você tem o blog (desde quando ele está no ar?), que é também uma loja de skate. Você consegue viver dele? Quando você começou, já havia outros sites com esse perfil, no ar?
Sidney Arakaki -O blog Skataholic foi criado com um post no dia 10 de agosto de 2007, no blogspot. Eu já tinha outro projeto de site de skate, mas era uma linguagem 100% jornalística. 

Lembro que eu li algum artigo sobre blogs e resolvi criar a conta mais para registrar o Skataholic, que era um username que estava usando desde o ICQ e Fotolog. Eu nem sabia como começar, então só postei uma foto e no título escrevi “Mais um blog nascendo pra aumentar as estatísticas”. Quando vi publicado, me empolguei e comecei a fazer posts como forma de experimento, exercitar novas formas de linguagem e escrever mais em primeira pessoa. 

Foi tudo acontecendo naturalmente. Ainda nem existia Youtube, acho, e eu imaginava que ninguém entrava em blog de skate. Aí teve um dia que descobri que rolava instalar contador de visitantes no blog. Quando eu vi que tinham visitantes, comecei a ter mais cuidado e levar mais a sério o conteúdo. 

Mas a prioridade era o Retta Skate, que eu considerava o portfólio e plataforma dos trabalhos que eu fazia cobrindo os eventos. Eu era contratado para ser juiz de uns campeonatos e cobrava um pouco mais para escrever o release pré e pós evento. Então eu publicava esse material e mandava para várias mídias de skate, esportes de ação e até jornais.

Investimento direto de marca de skate como publicidade nunca recebi no blog
nem no site. Mas teve uma época, pré redes sociais, que algumas agências me pagaram uma grana razoável por algumas campanhas. Eu não dependia do blog, tinha emprego, então foi um dinheiro que ajudou bastante quando o dólar estava R$1,60. Eu reclamava do PT, mas foi a melhor fase financeira do blog. Consegui viajar pra NY e comprar uma câmera.

Levando em consideração que não comecei o blog por fama em dinheiro, posso garantir que sou bem realizado com ele. Acho que a viagem dos sonhos que fiz para Los Angeles em 2015, não tem dinheiro que pague. Foi o maior reconhecimento do Skataholic até hoje.

O projeto de transformar o blog em loja é recente. Na verdade, é antiga, porque recebo muitos e-mails de pessoas perguntando sobre dicas de peças, tênis, lojas etc. Eu sempre fiz as indicações, mas estava desanimado que a maioria dos donos de marcas e lojas só dão valor para likes em redes sociais e quando eu preciso comprar peças para o meu skate, nem dão desconto. Não fiz as indicações em troca de nada e não acho que é obrigação deles me ajudarem. Mas no geral sinto que são ingratos.

Nessa quarentena, confinado, sem dinheiro, comecei a alimentar o blog com mais intensidade também como terapia. Senti que o confinamento fez aumentar a audiência, porque triplicou o número de visitantes. Aí me caiu a ficha que a Skataholic Mídia, minha empresa MEI de prestações de serviços, também está cadastrada como vendedor de artigos esportivos. Aí entrei em contato com o Serginho da Crail, que é o empresário brasileiro que eu mais respeito, ele entendeu a ideia do projeto e me cadastrou para ser meu fornecedor.

Aos poucos estou aumentando o estoque e melhorando as adaptações da loja, que é uma extensão do site. 

EQM -Para quem você tem criado conteúdo, além do seu portal?
Sidney Arakaki - Hoje em dia está difícil ser remunerado para criar conteúdo de skate. Nem em material o pessoal paga.

EQM- Você acha importante o skate se comunicar com além da sua bolha?
Sidney Arakaki - Acho essencial o skate quebrar essa barreira.

Eu tento fazer isso na medida do possível, com artigos que podem parecer apelativos, mas na verdade é uma forma de atrair um público diferente para eles terem contato com uns assuntos mais core. Caso eles se identifiquem, passam a pesquisar mais sobre o skate sem ser pela mídia de massa.

EQM -O skate está nas olimpíadas, como comunicadores e veículos de comunicação, de skate, podem se beneficiar com isso?
Sidney Arakaki - Os profissionais de comunicação sérios poderiam se beneficiar das olimpíadas. Mas, infelizmente, a cobertura das olimpíadas é feita de forma genérica pelos meios de comunicação detentores dos direitos de transmissão. 

Eu tenho orgulho de ter trabalhado na ESPN Brasil na Era que o José Trajano era diretor de jornalismo e ele mantinha um departamento de esportes de ação com especialistas. Skate, surf, BMX, X Games, não davam dinheiro como futebol e mesmo assim ele acreditava naquilo. Depois que ele saiu, o departamento foi extinto e o canal focou em futebol.

Então acho difícil no Brasil assistirmos uma cobertura especializada com qualidade. 

EQM- Além da comunicação, você já foi team manager da Sims. Aceitaria uma oportunidade dessa novamente?

Sidney Arakaki - Trabalhei como chefe de equipe da Sims logo depois que saí da 100%. Foi uma experiência muito importante para entender como funciona o mercado. Mas agora, não vejo esse tipo de trabalho como oportunidade. 

Foto: Arquivo Sidney

EQM- E como é ser arbitro da CBsK? Qual o processo para ser um árbitro e na prática, como funciona? 
 
Sidney Arakaki - Sou oficialmente árbitro da CBSk desde 2006, quando rolou o primeiro teste de aptidão. Teve tipo um curso de dois dias com provas.

Mas os promotores de eventos regionais não valorizam os árbitros e preferem que os amigos sem qualificação julguem os campeonatos. Curioso é que a maioria nem cobra cachês, só querem ostentar o status de juiz. 

Só os eventos profissionais têm um quadro sério de árbitros. Como minha prioridade era ir aos eventos como mídia, nunca cheguei a julgar um campeonato profissional.

EQM- Os japoneses vem forte para as Olimpíadas, né? Na sua época de Japão, eles já eram assim, tão determinados assim?.
Sidney Arakaki -Acho que determinação e disciplina fazem parte da cultura japonesa. Eu não lembro, não prestava atenção nessas coisas na época.
Mas refletindo agora, faz sentido, porque sempre fui bem diferente deles. Eu nunca tive paciência pra ficar tentando manobras por muito tempo. Já eles, persistiam até acertar. Enquanto eu estava focado em não errar as mesmas manobras de sempre em um minuto, eles estavam progredindo tecnicamente gravando para os vídeos.

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